Qual dente-de-leão há de ser o amor

A melancolia de outrora me fez lembrar de tudo o que já passei, dos caminhos que cruzei e dos amigos que tivera de abandonar. A vida é feita por divergências, e sempre estamos em busca de uma certeza que é inexistente nas coisas materiais. Traçamos planos e concluímos rotas, criamos mapas e escalas de sentimentos, pensamentos e ações. Mas, cada dia que passa, nos encapsulamos em prisões vagas, frias e duras.

Ocorre, que estamos nos reduzindo, nesse moldar-se todos os dias através do contato com os outros e esquecemos de que somos o nosso próprio molde, que não podemos mudar o que está fora se não conseguimos mudar aquilo que está dentro. Existe algo mais profundo? 

Em meio a um mundo caótico e egoísta, lembro-me de que essa realidade não condiz com os eternos tempos em que se ouvia falar, cantar, suspirar e clamar por amor. E onde o amor se escondeu? O certo é que ninguém mais o procura. Está escondido no ego? Onde poderá estar? 

Tal reflexão é capaz de me levar a tentar compreender o que fiz de minha vida durante todos esses anos, em que por brevissimos segundos, tal como passarinho, consegui tê-lo em minhas mãos. Mas não fui capaz de prendê-lo e deixei-o fugir. No anseio de encontrá-lo, procurei-o em coisas humanas, supérfluas, vagas e desonestas. Como pode se encontrar tamanho sentimento em um pântano caudaloso como este? De fato, tal como passarinhos, o amor reside em campos abertos e floridos, onde encontra o alimento para saciar seus frutos. Tal como árvore, cria ramos que se direcionam ao céu e raízes profundas que se estendem até ao centro. Qual como copa de palmeira, deixa-se direcionar pelo vento.  E qual dente-de-leão, se desprende do caule, joga-se ao mundo, deixando-se guiar por algo Algo maior em que acreditas. 

É certo, o amor encontra-se nos detalhes que não vemos, nas pessoas que não cremos e principalmente naquelas oportunidades que deixamos passar. Para conhecer algo desconhecido e ainda não visto, é necessário, portanto, se conhecer. Como admirar a beleza se não conhecer o que é belo? Como escrever versos se você não está familiarizado às rimas? 

Não somos escritores, mas devemos nos permitir, como um borrão de tinta que escapa do tinteiro, percorrer pelo papel da vida, sem rumo e sem direção, acreditando que existe algo maior a direcionar. Nesse borrão de tinta se encontra um significado, e talvez nele, um dia encontrarei o amor. 

Erickson Lima

Comentários

Postagens mais visitadas